Autor: José Carlos Daltozo

Gilberto Freyre e o estudo dos cartões postais

No livro "Alhos e Bugalhos", o escritor pernambucano Gilberto Freyre dedica 16 páginas a um estudo sobre o cartão-postal do início do século na Amazônia. Mais especificamente sobre os postais remetidos daquela região para Portugal.

Tudo começou quando ele visitava a Feira da Ladra, em Lisboa, e encontrou vários postais à venda numa barraquinha de antiguidades. Mostravam a Amazônia brasileira na época áurea da borracha. Sua atenção foi despertada, além das paisagens que não mais existiam, pelo conteúdo sociológico das mensagens escritas no verso. Ou seja, os imigrantes portugueses que vieram fazer a América, escrevendo para seus patrícios sobre a aventura no Inferno Verde.

Freyre, sem ser colecionador, passou a admirador do cartão-postal. O colecionador, a maioria das vezes, está à procura do aspecto pictório, do interesse histórico de um postal. Por exemplo, os sobrados coloniais do Rio de Janeiro antes de sua modernização, as ruas tranquilas e arborizadas de São Paulo antes da febre dos viadutos, as igrejas e edifícios antigos que tombaram no país todo em nome do progresso, tudo isso está representado numa coleção. Mas para Freyre interessava mais o que pensava o imigrante no começo do século XX, "vivendo no meio amazônico, no calor tropical, uma aventura em ambiente tão diverso do rotineiramente europeu de suas aldeias minhotas, ou do Porto, ou de Lisboa".

Nos postais esses imigrantes descreviam o que encontraram nas terras amazônicas, as árvores gigantescas, os rios infindáveis, as belezas dos teatros de Manaus e Belém, o movimento dos portos e até, num deles, o remetente exaltava a maravilha do banho diário e uso do chuveiro, ainda pouco conhecido nas províncias portuguêsas no início do século.

Freyre finaliza seu trabalho dizendo que "dos postais que consegui juntar para uma pequena análise, as informações conservadas nesses veículos simples e até frívolos e brejeiros de comunicação, não consta nenhum que confessasse fracassos. Ou contasse lamúrias e decepções. Isso não quer dizer que tais fatos não tenham ocorrido com os imigrantes portugueses, mas como o cartão-postal é algo festivo, colorido, lúcido, há uma incompatibilidade do seu uso para mensagens negativas. Todos os que se dispunham a comprar postais e escrever para seus parentes, o faziam com a euforia do triunfador".

 

Tentaremos a cada artigo contar um pouco da história deste método de preservas a história, os costumes e hábitos de diferentes povos. Maiores informações poderão ser obtidas diretamente com o editor que edita um boletim sobre informações de Cartofilia.

José Carlos Daltozo - Caixa Postal 117 - 19500-000, é funcionário aposentado do Banco do Brasil, coleciona postais à 10 anos e possui hoje em dia mais de 58.000 (cinquenta e oito mil postais).

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