Fonte: Revista Cláudia, Editora Abril, Março de 1998. Fotos: Xico Bunny.

O prazer delas é colecionar

Cinco mulheres falam sobre suas coleções e explicam por que, mais do que mania, essa é uma atividade divertida e apaixonante.

Desenvolver uma coleção é um passatempo antigo e universal. Gente dos mais diferentes lugares e perfis, de todas as idades, se dedica ao hábito de juntar e organizar selos, moedas, cartões de telefone, vidros de perfume, latas de cerveja, rótulos, carros e uma infinidade de outros objetos, caros ou baratos, raros ou comuns. Se você pensa que isso é coisa de quem não tem o que fazer ou de quem adora abarrotar a casa de quinquilharias, considere a possibilidade de mudar de idéia.

"A mania de colecionar é perfeitamente normal", diz o psiquiatra e psicoterapeuta José Roberto Altenfelder Silva Wolff. Guardar coisas de que se gosta faz parte do desenvolvimento do ser humano. "É muito comum que as crianças passem um longo tempo organizando e olhando seus brinquedos", lembra Wolff.

"Na vida adulta, algumas pessoas dão a esse hábito que vem da infância a forma de coleção. "Em casos extremos isso pode se transformar numa perversão, avisa o psiquiatra. "É quando o apego aos objetos colecionados passa a ter um sentimento de posse excessivo em relação a eles."

O engenheiro Fábio Pagotto, editor da Collector's Magazine, revista especializada no assunto, conhece muitas histórias de colecionadores. "Há quem guarde objetos antigos porque gostaria de ter vivido em outro tempo", conta. Existem aqueles que colecionam para compensar alguma fustração. Nem sempre, porém, a afetividade está associada ao hábito. Pagotto cita como exemplo pessoas que querem fazer bons negócios com suas peças.

...E o vento levou

Ela não está muito preocupada com o julgamento dos outros. Para a comerciante de obras de arte Beth Barreto, de 37 anos, não há nada mais importante do que sua coleção. Ela junta objetos ligados ao filme ...E o Vento Levou (1939). "Todo colecionador é um pouco louco", diz ela ao definir seu fascínio pela fita. Quando se casou, em 1986, Beth fez um vestido igual a um dos modelos exibidos pelo personagem Scarlett O'Hara, vivido pela atriz Vivien Leigh. "Adoro a Scarlett porque ela representa a grandeza da mulher."

Beth não tem idéia de quantas peças formam sua coleção hoje, mas vive cercada de referências do filme. A fachada de sua casa, no bairro do Morumbi, em São Paulo, é uma réplica da sede da fazenda Tara, o principal cenário da fita.

"Até minha cama é uma cópia da de Scarlett." Como se não bastasse, ela tem um restaurante batizado com o nome do personagem. Ali peças originais da coleção se misturam com a decoração. Nas paredes, em aparadores ou vitrines, vêem-se recortes dos jornais da época em que o filme foi lançado, fotos da produção das cenas, vestidos e outros objetos.

Para quem curte tamanha paixão, gastar 2.500 doláres num tailleur que pertenceu a Vivien Leigh não é muito dinheiro. Ter um seguro para as peças nunca foi uma preocupação. "Dizem que sou excêntrica, mas eu não ligo."

Se quebrar, quebrou

A jornalista Claudia Matarazzo, de 39 anos, coleciona só por passatempo. Há quinze anos ela começou a juntar xícaras de diferentes tipos e épocas e hoje dispõe de cinqüenta.

Apesar do carinho pelo coleção, Claudia põe as xícaras em uso e não se importa quando alguma delas quebra. "O importante é que elas me proporcionam momentos agradáveis com os amigos." O valor das peças varia de 15 a 150 reais.

Também faz parte do time que coleciona por passatempo a desenhista Mara Silvia Bulgarão Cosmo. Ela começou a guardar selos em 1974, quando era adolescente, e hoje possui cerca de 15.000 deles. Sua coleção tem exemplares de diversos países e está avaliada em 7.000 reias. É o meticuloso trabalho de organização da filatelia que lhe agrada. "Adoro organizar qualquer coisa: bibliotecas, agendas, armários."

Fonte de dinheiro

Para a decoradora Rosana Carnielli, de 39 anos, colecionar cartões-postais virou profissão. Ela e o marido, o psicanalista Raul Dick, compram e vendem cartões numa feira de antiguidadas em São Paulo. Tudo começou quando eles passaram a trocas os postais que sobravam de uma coleção pessoal, composta de 1.200 exemplares do início do século somente com images de cães. Esses o casal não vende. "Encontrei nos cartões uma maneira de substituir os cachorros de verdade, já que no meu apartamento não posso criar animais", explica Rosana. Quanto mais raro, maior é o valor de um cartão. Os preços variam de 50 centavos a 20 reais.

A decoradora Diúde Tytgadt também ganha dinheiro com sua coleção de 300 bonecas európeias de porcelana e de 2.000 peças de mobiliário de brinquedo.

São todas de origem francesa e alemã, dos séculos XVIII e XIX, e representam os hábitos de várias épocas. Por isso Diúde aluga a coleção para exposições sobre costumes e moda. Um centro cultural paulistano já chegou a lhe pagar 13.000 reais para exibir 31 bonecas e alguns brinquedos numa mostra. Nenhum objeto sai de sua casa sem uma apólice de seguro.

Há vinte anos, Diúde ganhou as peças de sua sogra. "Sempre adorei bonecas e ela achou que eu cuidaria bem de todas. A partir daí, comecei a procurar outros brinquedos antigos e hoje dedico a maior parte do meu tempo à coleção.

Agenda

Na Internet existe um site brasileiro dedicado ao colecionismo - http://www.colecionismo.com.br. Ali encontram-se artigos de especialistas e páginas dedicadas exclusivamente a colecionadores de selos, de cartões telefônicos e de moedas. Conexões com outros sites levam a associações e páginas de colecionadores do mundo todo. Há dicas para iniciantes e uma lista de emails para troca de correspondência. A revista Collector's Magazine é a única publicação periódica brasileira sobre o assunto. Ela existe desde 1996 e circula a cada dois meses. Os telefones para informações e assinatura são (011) 542-3895 e 240-3155.

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