Autor: Marcus Vinicius Coltro

COLEÇÃO POR FAMÍLIAS - CYPRAEIDAE

Uma dúvida de quem começa a colecionar conchas é a seguinte: será que devo colecionar todas as famílias? É claro que sim, dependendo do espaço físico – e disponibilidade financeira. Mas alguns colecionadores se especializam em certas famílias ou mesmo colecionam todas mas dão preferência à algumas delas. As famílias clássicas são:Strombidae, Cypraeidae, Muricidae, Volutidae e Conidae nos gastrópodes; Pectinidae, Cardiidae e Veneridae nos bivalves.

Outras famílias também atraem os colecionadores, e nem sempre são famílias com peças grandes e vistosas: meu irmão José coleciona Columbellidae, onde a maior concha não passa dos 5 cm. A diferença no gosto de cada colecionador é muito grande: o que para uns é muito bonito, para outros não agrada nem um pouco. De longe, a família mais colecionada é Cypraeidae: seu brilho atrai a atenção mesmo daqueles quenão colecionam conchas. E é sobre esta família que vou falar um pouco aqui.

Cypraea Brasileiras

1–Cypraea cinerea brasiliensis Lorenz & Hubert, 1993–1 a 3 cm
2 - Cypraea acicularis Gmelin, 1791 – 1 a 4 cm
3 - Cypraea surinamensis Perry, 1811 – 2 a 4 cm
4 - Cypraea zebra L., 1758 – 6 a 11 cm

Nota: O primeiro nome é o Gênero, o segundo a Espécie em letras minúsculas (no número 1 o terceiro nome é a
Sub-espécie), em seguida vem o nome da pessoa que identificou a concha como espécie nova e o ano em que otrabalho científico foi publicado.


Quando comecei a colecionar em 1976, consegui um exemplar da National Geographic de março de 1969 onde havia um artigo com mais de 40 páginas sobre conchas. Aquelas fotos me fascinaram! Em duas páginas estavam fotos de dezesseis Cypraea – claro que babei! O desejo de obter todas só foi satisfeito depois de mais de 15 anos...

As Cypraea são mais comuns nos Oceanos Pacífico e Indico. No Brasil temos apenas quatro espécies de Cypraea,
as comuns Cypraea acicularis, zebra e cinerea e a mais rara C. surinamensis. Esta última só é encontrada nas águas do
Nordeste até a Flórida. As outras também ocorrem até o litoral do Santa Catarina.

No total, existem aproximadamente 240 espécies, mais subespécies e variações. O animal prefere águas mais quentes, e não há registros em águas muito frias. Algumas vivem próximas à costa, e até na faixa da maré como por exemplo as comuns Cypraea annulus e C. moneta. Estas duas espécies foram amplamente utilizadas como moeda desde o século I até o século XVIII, principalmente em regiões onde não podiam ser encontradas com facilidade. Os árabes usaram milhões destas Cypraea como lastro em seus navios até o norte da África e em seguida as transportaram para o oeste da África onde as trocavam por escravos e ouro. Os portugueses também tiveram papel importante na utilização das Cypraea como dinheiro. Aliás, o nome popular da Cypraea em inglês é Cowrie, que nada mais é a palavra portuguesa
Cauri (Concha) adaptada para o inglês. Os holandeses tem registros de 4 bilhões e 700 mil Cypraea comercializadas entre 1669 e 1766!

A utilização de Cypraea como dinheiro só foi deixada de lado no início do século XX, quando a inflação fez com que o preço de uma noiva em Ghana fosse de 80.000 Cypraea, uma quantidade muito grande... Como as conchas foram perdendo valor sua utilização foi gradualmente deixada de lado.

No Brasil, até hoje as Cypraea são utilizadas no Candomblé (os famosos búzios), e se pode encontrar às vezes nas praias de Salvador alguns exemplares de C. moneta e annulus. Elas vem de barcos portugueses naufragados na costa baiana, que depois de tempestades vem parar na praia. Também são muito utilizadas em artesanato, pois são
encontradas em abundância.

Nas Ilhas Fiji, durante muito tempo a Cypraea aurantium era um símbolo que somente os chefes tribais podiam usar,
pois atribuíam-se a elas poderes sobrenaturais. Até hoje é umas das peças mais valorizadas pelos colecionadores apesar
de não ser tão mais rara.

Na Era Romana, algumas pessoas mais abastadas colecionavam conchas, e valorizavam muito as Cypraea. Sempre que alguém vinha de lugares distantes traziam algumas Cypraea, e as chamavam de “porculi” ou pequenos porcos. Com o tempo derivou para “porcellana”. Quando Marco Polo trouxe peças brilhantes de cerâmica da China as pessoas as chamaram de porcelana dada a semelhança às pequenas conchas. Até hoje, o nome popular para Cypraea na França é “porcelain”.

Lembro-me da primeira vez que mergulhei e encontrei uma Cypraea – fiquei alguns minutos apreciando o exemplar em
minhas mãos com a maior satisfação! Algumas espécies são comuns mas nem por isso não é emocionante encontrá-las.
Nas viagens ao Pacífico sempre que encontrei as Cypraea moneta e annulus fiquei fascinado! Certa vez encontrei cinco
exemplares de Cypraea tigris na Samoa Ocidental, que apesar de ser comum quase me afoguei ao ver exemplares vivos.
Esta concha também é abundante e muito utilizada em artesanato – e foi a lembrança que distribuí em meu casamento.

Na época que li a reportagem sobre conchas na National Geographic, não tinha acesso a livros sobre conchas e nem
havia a quantidade de literatura disponível hoje. Só sobre Cypraea existem três livros, sendo o mais completo o do Felix
Lorenz, A Guide to Worldwide Cowries, Verlag Christa Hemmen de 1993 – é um exelente livro!


1 – Cypraea marginata Gaskoin, 1849 - 50 a 70mm, Austrália
2 – Cypraea argus (Linné, 1758) – 60 a 90mm, Indo-Pacífico
3 – Cypraea aurantium (Gmelin, 1791) – 70 a 110mm, Centro-Oeste do Pacífico
4 – Cypraea stolida (Linné, 1758) – 20 a 30mm, Indo-Pacífico
5 – Cypraea cribraria (Linné, 1758) – 15 a 30mm, Indo-Pacífico
6 – Cypraea asellus (Linné, 1758) – 10 a 20mm, Indo-Pacífico
7 – Cypraea interrupta (Gray, 1824) – 15 a 25mm, Sri Lanka até Filipinas
8 – Cypraea albuginosa (Gray, 1825) – 20 a 30mm, Oeste da América
9 – Cypraea ziczac (Linné, 1758) – 10 a 20mm, Indo-Pacífico
10 – Cypraea mappa (Linné, 1758) – 50 a 100mm, Indo-Pacífico
11 – Cypraea tigris Linné, 1758 – 50 a 150mm, Indo-Pacífico
12 – Cypraea edentula (Gray, 1825) – 15 a 30mm, África do Sul
13 – Cypraea lamarcki (Gray, 1825) – 30 a 45mm, Índico
14 – Cypraea helvola (Linné, 1758) – 15 a 25mm, Indo-Pacífico
15 – Cypraea isabella (Linné, 1758) – 20 a 40mm, Indo-Pacífico
16 – Cypraea clandestina (Linné, 1767) – 10 a 20mm, Indo-Pacífico
17 – Cypraea nucleus (Linné, 1758) – 15 a 25mm, Indo-Pacífico
18 – Cypraea erosa (Linné, 1758) – 25 a 40mm, Indo-Pacífico
19 – Cypraea mus (Linné, 1758) – 30 a 50mm, Venezuela e Colômbia
20 – Cypraea caputserpentis (Linné, 1758) – 25 a 35mm, Indo-Pacífico
21 – Cypraea annulus (Linné, 1758) – 15 a 25mm, Indo-Pacífico
22 – Cypraea moneta (Linné, 1758) – 15 a 30mm, Indo-Pacífico
23 – Cypraea chinensis coloba (Melvill, 1888) – 20 a 30mm, Índico
24 – Cypraea turdus (Lamarck, 1810) – 25 a 45mm, Leste da África a Arábia

Marcus Vinicius Coltro, nosso colaborador é colecionador e comerciante especializado em conchas, autor das fotos e do texto.
Contato:
shells@femorale.com.br

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