COLEÇÃO
POR FAMÍLIAS - CYPRAEIDAE
Uma dúvida de quem começa
a colecionar conchas é a seguinte: será que devo
colecionar todas as famílias? É claro que sim,
dependendo do espaço físico e disponibilidade
financeira. Mas alguns colecionadores se especializam em certas
famílias ou mesmo colecionam todas mas dão preferência
à algumas delas. As famílias clássicas são:Strombidae,
Cypraeidae, Muricidae, Volutidae e Conidae nos gastrópodes;
Pectinidae, Cardiidae e Veneridae nos bivalves.
Outras famílias também
atraem os colecionadores, e nem sempre são famílias
com peças grandes e vistosas: meu irmão José
coleciona Columbellidae, onde a maior concha não passa
dos 5 cm. A diferença no gosto de cada colecionador é
muito grande: o que para uns é muito bonito, para outros
não agrada nem um pouco. De longe, a família mais
colecionada é Cypraeidae: seu brilho atrai a atenção
mesmo daqueles quenão colecionam conchas. E é sobre
esta família que vou falar um pouco aqui.
Cypraea Brasileiras
1Cypraea cinerea brasiliensis
Lorenz & Hubert, 19931 a 3 cm
2 - Cypraea acicularis Gmelin, 1791 1 a 4 cm
3 - Cypraea surinamensis Perry, 1811 2 a 4 cm
4 - Cypraea zebra L., 1758 6 a 11 cm
Nota: O primeiro nome é o Gênero,
o segundo a Espécie em letras minúsculas (no número
1 o terceiro nome é a
Sub-espécie), em seguida vem o nome da pessoa que identificou
a concha como espécie nova e o ano em que otrabalho científico
foi publicado. |
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Quando comecei a colecionar em 1976,
consegui um exemplar da National Geographic de março de
1969 onde havia um artigo com mais de 40 páginas sobre
conchas. Aquelas fotos me fascinaram! Em duas páginas
estavam fotos de dezesseis Cypraea claro que babei! O
desejo de obter todas só foi satisfeito depois de mais
de 15 anos...
As Cypraea são mais comuns nos
Oceanos Pacífico e Indico. No Brasil temos apenas quatro
espécies de Cypraea,
as comuns Cypraea acicularis, zebra e cinerea e a mais rara C.
surinamensis. Esta última só é encontrada
nas águas do
Nordeste até a Flórida. As outras também
ocorrem até o litoral do Santa Catarina.
No total, existem aproximadamente 240
espécies, mais subespécies e variações.
O animal prefere águas mais quentes, e não há
registros em águas muito frias. Algumas vivem próximas
à costa, e até na faixa da maré como por
exemplo as comuns Cypraea annulus e C. moneta. Estas duas espécies
foram amplamente utilizadas como moeda desde o século
I até o século XVIII, principalmente em regiões
onde não podiam ser encontradas com facilidade. Os árabes
usaram milhões destas Cypraea como lastro em seus navios
até o norte da África e em seguida as transportaram
para o oeste da África onde as trocavam por escravos e
ouro. Os portugueses também tiveram papel importante na
utilização das Cypraea como dinheiro. Aliás,
o nome popular da Cypraea em inglês é Cowrie, que
nada mais é a palavra portuguesa
Cauri (Concha) adaptada para o inglês. Os holandeses tem
registros de 4 bilhões e 700 mil Cypraea comercializadas
entre 1669 e 1766!
A utilização de Cypraea
como dinheiro só foi deixada de lado no início
do século XX, quando a inflação fez com
que o preço de uma noiva em Ghana fosse de 80.000 Cypraea,
uma quantidade muito grande... Como as conchas foram perdendo
valor sua utilização foi gradualmente deixada de
lado.
No Brasil, até hoje as Cypraea
são utilizadas no Candomblé (os famosos búzios),
e se pode encontrar às vezes nas praias de Salvador alguns
exemplares de C. moneta e annulus. Elas vem de barcos portugueses
naufragados na costa baiana, que depois de tempestades vem parar
na praia. Também são muito utilizadas em artesanato,
pois são
encontradas em abundância.
Nas Ilhas Fiji, durante muito tempo
a Cypraea aurantium era um símbolo que somente os chefes
tribais podiam usar,
pois atribuíam-se a elas poderes sobrenaturais. Até
hoje é umas das peças mais valorizadas pelos colecionadores
apesar
de não ser tão mais rara.
Na Era Romana, algumas pessoas mais
abastadas colecionavam conchas, e valorizavam muito as Cypraea.
Sempre que alguém vinha de lugares distantes traziam algumas
Cypraea, e as chamavam de porculi ou pequenos porcos.
Com o tempo derivou para porcellana. Quando Marco
Polo trouxe peças brilhantes de cerâmica da China
as pessoas as chamaram de porcelana dada a semelhança
às pequenas conchas. Até hoje, o nome popular para
Cypraea na França é porcelain.
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Lembro-me da primeira vez que mergulhei
e encontrei uma Cypraea fiquei alguns minutos apreciando
o exemplar em
minhas mãos com a maior satisfação! Algumas
espécies são comuns mas nem por isso não
é emocionante encontrá-las.
Nas viagens ao Pacífico sempre que encontrei as Cypraea
moneta e annulus fiquei fascinado! Certa vez encontrei cinco
exemplares de Cypraea tigris na Samoa Ocidental, que apesar de
ser comum quase me afoguei ao ver exemplares vivos.
Esta concha também é abundante e muito utilizada
em artesanato e foi a lembrança que distribuí
em meu casamento. |
Na época que li a reportagem
sobre conchas na National Geographic, não tinha acesso
a livros sobre conchas e nem
havia a quantidade de literatura disponível hoje. Só
sobre Cypraea existem três livros, sendo o mais completo
o do Felix
Lorenz, A Guide to Worldwide Cowries, Verlag Christa Hemmen de
1993 é um exelente livro!
1 Cypraea marginata Gaskoin, 1849 - 50 a 70mm, Austrália
2 Cypraea argus (Linné, 1758) 60 a 90mm,
Indo-Pacífico
3 Cypraea aurantium (Gmelin, 1791) 70 a 110mm,
Centro-Oeste do Pacífico
4 Cypraea stolida (Linné, 1758) 20 a 30mm,
Indo-Pacífico
5 Cypraea cribraria (Linné, 1758) 15 a 30mm,
Indo-Pacífico
6 Cypraea asellus (Linné, 1758) 10 a 20mm,
Indo-Pacífico
7 Cypraea interrupta (Gray, 1824) 15 a 25mm, Sri
Lanka até Filipinas
8 Cypraea albuginosa (Gray, 1825) 20 a 30mm, Oeste
da América
9 Cypraea ziczac (Linné, 1758) 10 a 20mm,
Indo-Pacífico
10 Cypraea mappa (Linné, 1758) 50 a 100mm,
Indo-Pacífico
11 Cypraea tigris Linné, 1758 50 a 150mm,
Indo-Pacífico
12 Cypraea edentula (Gray, 1825) 15 a 30mm, África
do Sul
13 Cypraea lamarcki (Gray, 1825) 30 a 45mm, Índico
14 Cypraea helvola (Linné, 1758) 15 a 25mm,
Indo-Pacífico
15 Cypraea isabella (Linné, 1758) 20 a 40mm,
Indo-Pacífico
16 Cypraea clandestina (Linné, 1767) 10
a 20mm, Indo-Pacífico
17 Cypraea nucleus (Linné, 1758) 15 a 25mm,
Indo-Pacífico
18 Cypraea erosa (Linné, 1758) 25 a 40mm,
Indo-Pacífico
19 Cypraea mus (Linné, 1758) 30 a 50mm,
Venezuela e Colômbia
20 Cypraea caputserpentis (Linné, 1758)
25 a 35mm, Indo-Pacífico
21 Cypraea annulus (Linné, 1758) 15 a 25mm,
Indo-Pacífico
22 Cypraea moneta (Linné, 1758) 15 a 30mm,
Indo-Pacífico
23 Cypraea chinensis coloba (Melvill, 1888) 20
a 30mm, Índico
24 Cypraea turdus (Lamarck, 1810) 25 a 45mm, Leste
da África a Arábia
Marcus Vinicius Coltro, nosso colaborador
é colecionador e comerciante especializado em conchas,
autor das fotos e do texto.
Contato: shells@femorale.com.br |
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