Autor: Peter Meyer

O INÍCIO E O VALOR DOS SELOS E PEÇAS FILATÉLICAS

Escrever. Atividade indispensável à todos os seres humanos nos dias atuais. No passado, não muito distante, entretanto, Mensagem do Marajá de Jaipu/Índia, do ano 1663, conduzido por mensageiro a cavalopoucas pessoas sabiam escrever. Para deter o PODER, monarcas, imperadores, déspotas e sultões precisavam comunicar-se com precisão e rapidez. Detinham um serviço particular de cavaleiros, treinados para enviar mensagens escritas e poucas pessoas podiam comunicar-se através da palavra escrita. Para garantir o recebimento de uma mensagem, muitas vezes, dois estafetas percorriam grandes distâncias por caminhos diferentes para, no final, chegarem ao mesmo lugar.
Até 6 de maio de 1840, o pagamento das mensagens escritas, para o cidadão comum, era realizado após a prestação do serviço e em função da distância, ou seja, pelo destinatário. Após esta data, a Grã-Bretanha Gravura de Sir Rowland Hill, criador do selo postal adesivo, o ONE PENNY BLACK. Seu corpo jaz na Westminster Abbeypassou a empregar o selo postal adesivo, que indicava o pré-pagamento da mensagem escrita circulada. Para anular esta tarifa o selo postal levava um carimbo. No Brasil, isso passou a acontecer também à partir do dia primeiro de agosto de 1843, nosso Dia do Selo Postal, o mesmo onde aconteceu o lançamento do selo postal adesivo no Rio de Janeiro (a Corte). Lembre-se que, na época, não havia meios de comunicação elétricos e eletrônicos e, em São Paulo, por exemplo, o selo postal chegou apenas em novembro de 1843. Quanto mais distante da Corte, mais demorou para a implementação do selo postal adesivo.

O SELO SERVIDO
O selo anulado mediante a aplicação de um carimbo, geralmente indicando a cidade de origem da missiva, deveria ter um Mala Direta - Lista de preços da Empresa de Alph P. Bruck, primeiro comerciante filatélico atuante no Brasil. Na parte interna, ele oferece dos Olhos-de-Boi aos selos com a efígie de D. Pedro II, com preços para um exemplar e dez exemplaresdestino certo: O LIXO. Da mesma forma como jogamos fora passagens aéreas, de trem, ônibus e metrô após o seu uso, o mesmo deveria ter acontecido com o selo postal servido, carimbado. ISTO, ENTRETANTO, NÃO ACONTECEU. QUAL A RAZÃO?
Em 1860, Moens editou um livro com a ilustração de todos os selos postais emitidos no mundo até aquela data, atribuindo valores para selos com e sem carimbo (novos). Claro que este livro funcionou e diversas pessoas passaram a NÃO JOGAR FORA os selos servidos e os novos. Nascia, desta forma, a FILATELIA, que deve a sua existência aos primeiros comerciantes filatélicos do século retrasado, passado e presente. São os comerciantes filatélicos espalhados pelo mundo que formam, estimulam e promovem a filatelia tradicional, temática e a história postal. Deve-se ao famoso Robson Lowe a patente do termo "história postal".
Atualmente, existem colecionadores de cédulas, cartões telefônicos, etc., e tudo começou com um CATÁLOGO DE SELOS. Hoje coleciona-se, inclusive, as cartas e peças circuladas antes do selo postal, que chamamos de PRÉ-FILATELIA.

Mala Direta - Lista de preços da Empresa de Alph P. Bruck, primeiro comerciante filatélico atuante no Brasil. Na parte interna, ele oferece dos Olhos-de-Boi aos selos com a efígie de D. Pedro II, com preços para um exemplar e dez exemplaresPRÉ-FILATELIA NO BRASIL
Das 3 primeiras peças pré-filatélicas da História Postal Luso-brasileira, apenas a famosa carta de Pero Vaz de Caminha continua a existir. As duas outras, uma de Cabral ao Rei e outra do Capelão da frota, perderam-se no terremoto de 1755 ocorrido em Lisboa/Portugal. Pode-se perceber que a História de uma Nação está intimamente ligada à pré-filatelia, registro vivo dos fatos de outrora. Passeando pela nossa História Postal, da era pré-filatélica até os dias de hoje, um longo caminho foi percorrido. A era dos Correios-Mores sob domínio Real, sob a guarda da família Gomes da Mata, após a Revolução Francesa, a vinda da família Real Portuguesa ao Brasil em 1808, a Independência, as Guerras e Revoluções (Independência, Farrapos, Cisplatina, Pernambucana, etc.) enfim, a filatelia e a pré-filatelia REGISTRAM TUDO. Até desastres aéreos, terremotos, campos de concentração, genocídios, greves, guerra fria, espionagem, temos na filatelia. É um mundo de conhecimento. O seu mundo, o nosso mundo por escrito, circulado e estudado e sem versões, opiniões. Enfim, a História de VERDADE.
Neste exato momento, assisto televisão e vejo o narrador citando o terremoto ocorrido em 1923 no Japão, onde 143.000 pessoas faleceram. Para um filatelista, isto não é novidade, e lembro que tenho uma peça circulada registrando exatamente este fato triste e inesquecível. Veja ilustração a seguir.TERREMOTO de 1923, no Japão
A pré-filatelia brasileira apresenta cerca de 250 marcas postais diferentes (carimbos de origem da missiva) e o pagamento era realizado no destino, após a prestação do serviço. Nos Estados Unidos da América do Norte existem, no mesmo período (de 1766 a 1843), mais de 10.000 marcas diferentes. Basta conhecer isso para perceber que o velho mundo, a Europa, optou pela colonização da América do Norte, onde milhares de pessoas migraram, SABENDO ESCREVER. Pense e responda rapidamente: Qual o país mais rico e poderoso do mundo ? A pré-filatelia já respondeu.
Apesar disso, nós tivemos selos postais emitidos antes dos EUA, sendo responsável por isso Napoleão Bonaparte, ordenando a invasão de Portugal, antigo aliado da Grã-Bretanha, por Junot. Por isso, D.João VI partiu para o Brasil em 32 embarcações. D.João VI foi corajoso e não fugiu, como insinuam alguns historiadores. Ele preparou-se para tal empreitada e trouxe consigo máquinas de impressão e uma Corte com 15.000 pessoas. Ele foi o único soberano europeu que teve coragem para tal missão, chegando ao Rio de Janeiro, após uma estadia em Salvador, Sobrecarta completa da cidade de Parahyba do Sul para o Rio de Janeiro, com o porte de 20 réis indicados a tinta e pagos pelo destinatário: pequena tarifa postal, pois a distância entre as cidades era de apenas algumas léguascom tantas pessoas. O Rio de Janeiro tinha na época 80.000 habitantes e o choque cultural e étnico foi imenso. Por isso, claro, pagou um preço muito alto, e acredito que estamos pagando esta fatura até os dias de hoje.
As máquinas de impressão começaram a imprimir selos fiscais, dinheiro, etc. e, no dia 6 de agosto de 1843, eram vendidos os famosos Olhos-de-Boi. Tornou-se assim o Brasil, o segundo país a emitir um selo postal com valor de franquia para todo o território nacional.
Foram impressos selos nos valores de 30, 60 e 90 réis, com a finalidade de cobrir as tarifas pré definidas da seguinte forma:

PESO

TERRA

MAR

Não excedente à 4 oitavas

60 réis

120 réis

de 4 à 6 oitavas

90 réis

180 réis

de 6 à 8 oitavas

120 réis

240 réis

 

Acabava, desta forma, a cobrança do serviço em razão da distância percorrida. Terminava, também, a desculpa do Inetiro Postal enviado de Ouro Preto/MG para a Revista Filatélica de Parisdestinatário, que dizia não ter dinheiro para pagar, quando as vezes recebia em forma de código a mensagem do lado externo da sobrecarta.
Falamos sobrecarta, pois o envelope foi inventado em 1830 nos EUA e só chegou ao Brasil no final de 1860. A sobrecarta era uma folha de papel dobrado e fechado com lacre e muitas vezes o próprio selo postal servia de fecho da missiva. É por essa razão que os Olhos-de-Boi e as emissões seguintes são escassas, quando sem rasgo, sobre estas antigas correspondências. Estima-se que não existam mais do que 150 cartas (ou sobrecartas) contendo Olhos-de-Boi intactos e em bom estado. Da mesma forma que um diamante, num determinado peso, pode valer entre 1 e 100, os selos postais antigos, dependendo de seu estado de conservação, podem ter o valor entre 1 e 100.
Os famosos Olhos-de-Boi, emitidos em 1° de Agosto de 1843, dia do nosso Selo PostalOs famosos Olhos-de-Boi, emitidos em 1° de Agosto de 1843, dia do nosso Selo PostalOs famosos Olhos-de-Boi, emitidos em 1° de Agosto de 1843, dia do nosso Selo PostalDa mesma forma que você não compra um Diamante na porta de casa ou numa feira livre, pois fica difícil distinguir uma pedra autêntica de uma falsificação, o mesmo acontece com selos postais antigos (caros ou não). Exija uma garantia, um certificado e procure um comerciante estabelecido e de preferência de competência reconhecida.
Uma das perguntas mais freqüentes entre os não filatelistas é: Quanto vale um Olho-de-Boi. Para os interessados, podemos fornecer uma cópia desta matéria, publicada na revista SAMMLER em 1991. O verdadeiro filatelista deseja saber o valor. Por outro lado o valor não é o mais importante. Para o verdadeiro filatelista o valor é um obstáculo.

O VALOR DE UM SELO OU DE PEÇA FILATÉLICA

HISTÓRICO
O selo postal, da mesma forma como o Hino Nacional, a Bandeira Nacional e a Moeda de um País, significa INDEPENDÊNCIA, RECONHECIMENTO e LIBERDADE. O selo postal constitui elemento fundamental de um Estado livre e independente e seu reconhecimento é feito, pela UPU - União Postal Universal. A criação da UPU partiu da iniciativa de Heinrich von Stephan (1831-1897) e teve como ponto de partida o Congresso de Berna/Suiça em 1874. Até os dias atuais, um país livre e independente é reconhecido pelo ponto de vista postal pela UPU. A violação deste direito do cidadão acontece quando a falta de liberdade, a invasão e o domínio estrangeiro se estabelece.

FINANCEIRO
A maioria das pessoas acredita que o valor de um selo postal está na TIRAGEM do mesmo. Não é bem assim. Vejamos as razões:
Num mercado onde 2000 pessoas desejam um selo postal o que importa se a tiragem do selo foi de 10 mil ou 1 milhão? E num mercado de 50 mil potenciais compradores e apenas 100.000 ou 1 milhão de selos? Pouco importa, teremos selos para TODOS e claro, nunca haverá valorização alguma e não poderia ser de outra forma. É exatamente isso que acontece Selo Fiscal da época do Brasil Império, com o número SF-133, impresso na Casa da Moeda do Brasilcom os selos comemorativos, com tiragens definidas, pouca circulação e pouco desperdício. Com muitos selos novos e poucos interessados, poucas serão as chances de uma eventual valorização. O mesmo acontece quando a tiragem ou a sobra de um selo é de apenas 100 exemplares e 10 pessoas colecionam esta área. Assim sendo, o valor de uma peça depende da relação entre o número de interessados em relação ao número de peças disponíveis, considerando-se, ainda, se estes interessados terão disposição, vontade, disponibilidade financeira e tempo para comprar a referida peça. Para ser mais claro, vou exemplificar com automóveis: muitas pessoas desejam adquirir uma Ferrari, carro escasso no Brasil, e muitas podem e não querem, enquanto outras querem e não podem. Caso a Ferrari aumentasse a tiragem, mesmo assim, o número de candidatos no Brasil não aumentaria consideravelmente, pelas mesmas razões expostas anteriormente.

CATÁLOGO DE SELOS E A ÉTICA NA INTERNET
O Catálogo de Selos é fundamental para o filatelista. Como vimos anteriormente, foi por causa da emissão de um deles que nasceu a filatelia, como a conhecemos atualmente.
Por outro lado, o Catálogo de Selos não pode ser visto como uma camisa de força nos preços praticados. O mercado é muito mais dinâmico e se de um lado existe descontos, promoções, leilões, do outro, existe diminuição de oferta, escassez de peças boas. Em determinados setores da filatelia brasileira, o nascimento de dois ou três colecionadores, ou a morte de um único pode alterar o valor filatélico de uma peça, por incrível que pareça.
Na INTERNET, podemos observar que existe a falta de ética, quando pessoas tentam vender objetos que valem 10 por 1000 e que quando questionados respondem: "o mercado é livre, não se meta. Você pensa que é o paladino da filatelia?"
Não, apenas editamos o Catálogo de Selos do Brasil, que existe há 58 anos. E se você analisar com calma, verificará que a relação de valores impressos ao longo destes anos não mudou muito, principalmente na parte chamada clássica. Um 60 réis Olho-de-Boi com carimbo está cotado há dezenas de anos pelo mesmo valor que um 1.000 réis Pão de Açúcar Envelope circulado do Kuwait para Bangladesh, com carimbo de passagem por Bagdá. Selo do Saddan Hussein, utilizado durante a ocupação do Iraque, em 1990, no Kuwait. Sendo o país ocupado, o selo postal do inimigo será colado(número 69) de 1888 novo. Claro que no Catálogo existem erros nas cotações. Seria quase impossível acertar mais de 15.000 cotações de selos e peças diversas. Mesmo assim, deve-se manter uma ética, seja no valor, na qualidade e principalmente na autenticidade de um selo. Aprendi isso há muito tempo e sendo comerciante filatélico, tenho meus fornecedores habituais, tanto no Brasil como no exterior.
Procure fazer o mesmo, e desejo que encontre no caminho um bom comerciante que saiba orientar, ensinar e fazer você crescer na filatelia. A linguagem desenvolvida entre estas pessoas, a amizade e a troca de conhecimentos, será imensa e, como dizem na televisão, "EXISTEM COISAS QUE O DINHEIRO NÃO COMPRA... (na filatelia seria a confiança, o aprendizado, a seriedade e a companhia)... PARA TODO O RESTO, EXISTEM CARTÕES DE CRÉDITOS, CHEQUES E DINHEIRO". Boa sorte.

Eng. Peter Meyer
Membro do Club D'Elite da Filatelia de Mônaco, é editor dos Catálogos de Selos do Brasil, nosso colaborador e comerciante filatélico. Atualmente, está dirigindo a RHM Filatelistas, estabelecida no dia 20 de agosto de 1951. Também é autor do Catálogo Enciclopédico de Selos e História Postal do Brasil e do Catálogo de Inteiros Postais do Brasil

voltar
Atenção !!! Dica Esperta...
 
 Leilões de Selos: Clique aqui para ver o Material de Filatelia à venda neste momento em nossos leilões

COMO ANUNCIAR - AUDIÊNCIA/ESTATISTICAS - COMO SE ASSOCIAR - NÓS NA MIDIA - NOSSOS PRÊMIOS - PRIVACIDADE