Muitas pessoas acreditam que a filatelia
e a numismática, ou o seu comércio, são
atividades semelhantes ou até mesmo idênticas. A
resposta é simples, mas podemos complicá-la.
Resposta Simples: Filatelia trata dos selos postais e
sua história.
A Numismática, das moedas e cédulas. Vejamos a
origem destas palavras:
FILATELIA - do grego Philos = amigo + Ateleia = marca com selo
NUMISMÁTICA - do grego Nomismatike = relativo à
moedas.
Os profissionais que atuam no comércio filatélico
e numismático, entretanto, formam grupos distintos e separados.
Filatelistas são profissionais que comercializam selos
e história postal Numismatas comercializam cédulas
e moedas.
Eu, particularmente, acredito que a dedicação total
torna-se indispensável para ser um bom filatelista ou
um bom numismata.
Resposta Complicada: Pessoas que colecionam selos e/ou moedas
apresentam muitas características semelhantes e algumas
diferenças fundamentais. Devemos até separar os
filatelistas em dois grupos; o mesmo ocorre com os numismatas.
Na filatelia, temos os colecionadores de selos e os de história
postal.
Na numismática, há os colecionadores de cédulas
e os de moedas.
Os colecionadores de selos podem ser temáticos ou tradicionais.
Os temáticos procuram pesquisar assuntos de seu interesse,
como, por exemplo, Fauna, Esportes, etc; os tradicionais procuram
um exemplar de cada emissão postal de um país.
Os colecionadores de história postal (temáticos
ou tradicionais) fazem o mesmo com cartas e documentos relacionados
aos serviços postais.
O selo postal, sendo um pedaço
de papel, não tem valor intrínseco, ou seja, vale
o peso do kg do papel. Nesse caso, quase nada. Seu valor histórico-cultural,
ligado à escassez do item em questão.
Nas cédulas, acontece o mesmo. Este tipo de numismata,
romântico na arte de colecionar, também não
está preocupado com o valor do peso de papel.
Preocupa-se com o valor histórico, iconográfico,
com o grau de raridade, estado de conservação,
etc.
O colecionador de moedas já olha o valor da prata ou do
ouro e utiliza esse mercado como referência. Isto não
significa que o colecionador de moedas se interesse apenas pelo
valor do ouro ou da prata. Ao contrário, pode e chega
a pagar muitas e muitas vezes o valor do peso metálico
por uma moeda, devido ao seu valor histórico, à
raridade, etc. Por outro lado, não deixa de pensar:
"Se tudo pegar fogo, pelo menos o valor metálico,
que às vezes é irrisório em relação
ao valor pago, continua existindo".
Em comum, os filatelistas e numismatas têm: o respeito
pelo passado e a saudade desse tempo, a cultura geográfica
e histórica, além de recursos financeiros para
encaminhar seus projetos.
Desenvolvem capacidades e habilidades inimagináveis e
um vocabulário próprio. Buscam tesouros perdidos
e respostas enteradas na História da Humanidade. E muitas
vezes ACHAM...
Mais interessante fica quando FILATELIA une-se à NUMISMÁTICA
(ou vice-versa) de forma INCRÍVEL. Veja a seguir uma dessas
UNIÕES.
REVIVENDO A HISTÓRIA
Palco: Estados "UNIDOS" da América do Norte
Período: 1861 a 1865
Fato: Guerra de Secessão
ANTECEDENTES HISTÓRICOS:
A Marcha para o Oeste
A descoberta de ouro na Califórnia, em 1853, desencadeou
a corrida para o Oeste. A falta de ferrovias ligando o leste
ao oeste e a ocupação indígena trouxeram
a era de empresas, como a Wells Fargo e os famosos Pony Express
(cavaleiros encarregados de atravessar regiões perigosas,
a cavalo, transportando ouro e cartas), como meio de ligação.
Por outro lado, essa migração agravou a rivalidade
política e econômica entre o Norte, burguês-capitalista,
e o Sul, agrário-escravocrata, causa principal da famosa
Guerra de Secessão. Houve um crescimento demográfico
enorme (de 9 para 30 milhões de habitantes entre 1820
e 1860) e os EUA incorporaram novos territórios (compra,
diplomacia e guerras).
Os EUA compraram: a Louisiania, da França, por 15 milhões
de dólares; a Flórida, por 5 milhões, da
Espanha e o Alasca, por 7 milhões, da Rússia. Por
acordo feito com a Grã-Bretanha, o Oregon, e pela guerra
contra o México, em 1848, o Texas, a Califórnia
e o Novo México.
A União (Norte) dos homens livres e os Confederados (Sul)
dos escravos entraram em conflito logo após a eleição
de Abraham Lincoln, republicano do norte, em 1860. Em 1861, 11
estados sulistas elegeram Jefferson Davis presidente e, com a
nova capital, Richmont/Virgínia, separaram-se da União.
A batalha decisiva aconteceu em 1863 (Gettysburg), com a vitória
do General Ulysses Grant, do norte. O fim da guerra, entretanto,
aconteceu em Appomatox, em 1865, com a capitulação
final dos confederados.
Lincoln determinou o final da escravidão em toda a União,
em 1863.
Centavos de dólar em
papel moeda?
A falta de metais para a fabricação de armas levou
a União (e o sul também) a reter todas as moedas
(numismática). Houve falta de troco e, por recomendação
do GeneralSpinner, naquele tempo Tesoureiro da União,
o Congresso aprovou, pelo ato de 17 de julho de 1862, a emissão
de papel moeda nos valores de 5, 10, 25 e 50 centavos e , em
1864, a de 3 centavos.
Essa emissão chamou-se, inicialmente, Postage Currency
- Meio circulantepostal. No centro de algumas cédulas,
havia a impressão semelhante aos selos postais da época.
As emissões posteriores, autorizadas pelo Congresso no
dia 3 de março de 1863, passaram a ser chamadas de "Fractional
Currency-Meio circulante fracionado". Foram impressas cédulas
fracionadas num valor total de 369 milhões de dólares,
desmonetizadas pelos Atos de 14 de janeiro de 1875 e abril de
1876. A partir dessas datas, voltaram a circular as moedas de
prata (silver dólar).
A Comunicação
Postal com o Brasil
A correspondência proveniente da América do Sul,
em geral, e do Brasil, em particular, viajava muito. A falta
de linhas regulares entre os países sul-americanos e os
EUA motivavam o que, na filatelia, chamamos de "dupla travessia
transatlântica".
As cartas iam primeiro para a Grã-Bretanha (ou França,
entre outros países), para, depois, seguirem viagem aos
EUA. No caminho inverso, o mesmo acontecia.
O pagamento realizado no destino, entretanto, apresenta marcas
e sinais muito interessantes, ligando a filatelia e a numismática.
Veja o exemplo à seguir:
Sobrecarta completa, enviada do Rio de Janeiro, 8 de julho de
1863, para Nova Iorque, com pagamento integral no destino. A
tarifa postal entre o Brasil e a Grã-Bretanha, na época,
era de 24 centavos de dólar (primeira escala de peso),
sendo 48 centavos o porte duplo. Veja o carimbo de 48 CENTS desse
percurso.
Da Grã-Bretanha para os EUA, o porte duplo era de 42 centavos.
Temos então um total a ser pago, no destino, de 90 centavos.
Esses 90 centavos poderiam ser pagos em moedas de prata ou em
papel moeda. No segundo caso, entretanto, havia um acréscimo
de 20% (falta de metal, moeda). Daí o carimbo preto U.
S. NOTES 108 (90 centavos + 20%), indicando que o destinatário
forneceu dólar fracionado para o referido pagamento. Era
a filatelia e a numismática interligadas num só
documento filatélico.
Caso inverso: Temos à seguir
uma carta dos EUA para o Brasil que passou pela França
e recebeu um carimbo de passagem "F-23" que indica
a procedência desta missiva e teve que pagar no Brasil
a quantia de 540 réis, valor este correspondente ao primeiro
porte dos EUA para o Brasil, determinado pela convenção
Postal, celebrada entre o Brasil e a França em 1860.
O Casamento Perfeito
Teoricamente, seria possível, então, existir um
selo recortado da cédula fracionada que, afixado ou impresso
numa carta, representaria o pagamento antecipado pelo serviço
postal. Ora, como cédulas e selos são impressos
pela mesma empresa, ou seja, a Casa da Moeda, por que não
aceitar uma cédula ou parte dela como pagamento pela despesa
postal? No caso, até uma semelhança física
existe entre o selo postal e o centro da cédula fracionada.
Pois bem, a seguir apresentamos uma peça "filo-numismática"
ou "numis-filatélica", mostrando um livro enviado
com tarifa de 10 centavos de dólar, sendo que este foi
recortado de uma cédula do período. O "selo-papel
moeda", se é que podemos assim chamá-lo, ainda
recebeu um carimbo mudo(sem indicação escrita ou
letras). Pelo peso e distância, deveria receber exatamente
10 centavos de dólar como tarifa postal. Assim, percebemos
que FILATELIA E NUMISMÁTICA, unidas a eventos da História,
podem mostrar, lembrar e explicar épocas e períodos.
Comece você também, lendo, pesquisando e descobrindo
fatos e objetos de grande interesse e curiosidade, sendo um FILATELISTA
ou um NUMISMATA. Pode-se desejar ainda ser um FILO-NUMISMATA
ou NUMIS-FILATELISTA.
Cartas de Soldados
O soldado, na frente de batalha, costumava, durante os momentos
de trégua, escrever a seus amigos e familiares, informando
sua situação, descrevendo atos e fatos. Nesses
locais, não havia como pagar por esse serviço,
por isso tal pagamento, como na era pré-filatélica,
era efetuado no destino. As cartas provenientes desses remetentes
custavam 3 centavos no destino. As vezes, os envelopes continham
mensagens impressas, invocando a União e frases patrióticas.
Vemos aí a filatelia e sua história.
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Eng. Peter Meyer
Membro do Club D'Elite da Filatelia de Mônaco, é
editor dos Catálogos de Selos do Brasil, nosso colaborador
e comerciante filatélico. Atualmente, está dirigindo
a RHM Filatelistas, estabelecida no dia 20 de agosto de 1951.
Também é autor do Catálogo Enciclopédico
de Selos e História Postal do Brasil e do Catálogo
de Inteiros Postais do Brasil. |
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