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SELOS E MOEDAS

Autor: Peter Meyer


Muitas pessoas acreditam que a filatelia e a numismática, ou o seu comércio, são atividades semelhantes ou até mesmo idênticas. A resposta é simples, mas podemos complicá-la.
Resposta Simples: Filatelia trata dos selos postais e sua história.
A Numismática, das moedas e cédulas. Vejamos a origem destas palavras:
FILATELIA - do grego Philos = amigo + Ateleia = marca com selo
NUMISMÁTICA - do grego Nomismatike = relativo à moedas.
Os profissionais que atuam no comércio filatélico e numismático, entretanto, formam grupos distintos e separados. Filatelistas são profissionais que comercializam selos e história postal Numismatas comercializam cédulas e moedas.
Eu, particularmente, acredito que a dedicação total torna-se indispensável para ser um bom filatelista ou um bom numismata.

Resposta Complicada: Pessoas que colecionam selos e/ou moedas apresentam muitas características semelhantes e algumas diferenças fundamentais. Devemos até separar os filatelistas em dois grupos; o mesmo ocorre com os numismatas.
Na filatelia, temos os colecionadores de selos e os de história postal.
Na numismática, há os colecionadores de cédulas e os de moedas.
Os colecionadores de selos podem ser temáticos ou tradicionais. Os temáticos procuram pesquisar assuntos de seu interesse, como, por exemplo, Fauna, Esportes, etc; os tradicionais procuram um exemplar de cada emissão postal de um país.
Os colecionadores de história postal (temáticos ou tradicionais) fazem o mesmo com cartas e documentos relacionados aos serviços postais.
O selo postal, sendo um pedaço de papel, não tem valor intrínseco, ou seja, vale o peso do kg do papel. Nesse caso, quase nada. Seu valor histórico-cultural, ligado à escassez do item em questão.
Nas cédulas, acontece o mesmo. Este tipo de numismata, romântico na arte de colecionar, também não está preocupado com o valor do peso de papel.
Preocupa-se com o valor histórico, iconográfico, com o grau de raridade, estado de conservação, etc.
O colecionador de moedas já olha o valor da prata ou do ouro e utiliza esse mercado como referência. Isto não significa que o colecionador de moedas se interesse apenas pelo valor do ouro ou da prata. Ao contrário, pode e chega a pagar muitas e muitas vezes o valor do peso metálico por uma moeda, devido ao seu valor histórico, à raridade, etc. Por outro lado, não deixa de pensar:
"Se tudo pegar fogo, pelo menos o valor metálico, que às vezes é irrisório em relação ao valor pago, continua existindo".
Em comum, os filatelistas e numismatas têm: o respeito pelo passado e a saudade desse tempo, a cultura geográfica e histórica, além de recursos financeiros para encaminhar seus projetos.
Desenvolvem capacidades e habilidades inimagináveis e um vocabulário próprio. Buscam tesouros perdidos e respostas enteradas na História da Humanidade. E muitas vezes ACHAM...
Mais interessante fica quando FILATELIA une-se à NUMISMÁTICA (ou vice-versa) de forma INCRÍVEL. Veja a seguir uma dessas UNIÕES.

REVIVENDO A HISTÓRIA
Palco: Estados "UNIDOS" da América do Norte
Período: 1861 a 1865
Fato: Guerra de Secessão

ANTECEDENTES HISTÓRICOS:
A Marcha para o Oeste

A descoberta de ouro na Califórnia, em 1853, desencadeou a corrida para o Oeste. A falta de ferrovias ligando o leste ao oeste e a ocupação indígena trouxeram a era de empresas, como a Wells Fargo e os famosos Pony Express (cavaleiros encarregados de atravessar regiões perigosas, a cavalo, transportando ouro e cartas), como meio de ligação.
Por outro lado, essa migração agravou a rivalidade política e econômica entre o Norte, burguês-capitalista, e o Sul, agrário-escravocrata, causa principal da famosa Guerra de Secessão. Houve um crescimento demográfico enorme (de 9 para 30 milhões de habitantes entre 1820 e 1860) e os EUA incorporaram novos territórios (compra, diplomacia e guerras).
Os EUA compraram: a Louisiania, da França, por 15 milhões de dólares; a Flórida, por 5 milhões, da Espanha e o Alasca, por 7 milhões, da Rússia. Por acordo feito com a Grã-Bretanha, o Oregon, e pela guerra contra o México, em 1848, o Texas, a Califórnia e o Novo México.
A União (Norte) dos homens livres e os Confederados (Sul) dos escravos entraram em conflito logo após a eleição de Abraham Lincoln, republicano do norte, em 1860. Em 1861, 11 estados sulistas elegeram Jefferson Davis presidente e, com a nova capital, Richmont/Virgínia, separaram-se da União.
A batalha decisiva aconteceu em 1863 (Gettysburg), com a vitória do General Ulysses Grant, do norte. O fim da guerra, entretanto, aconteceu em Appomatox, em 1865, com a capitulação final dos confederados.
Lincoln determinou o final da escravidão em toda a União, em 1863.

Centavos de dólar em papel moeda?
A falta de metais para a fabricação de armas levou a União (e o sul também) a reter todas as moedas (numismática). Houve falta de troco e, por recomendação do GeneralSpinner, naquele tempo Tesoureiro da União, o Congresso aprovou, pelo ato de 17 de julho de 1862, a emissão de papel moeda nos valores de 5, 10, 25 e 50 centavos e , em 1864, a de 3 centavos.
Essa emissão chamou-se, inicialmente, Postage Currency - Meio circulantepostal. No centro de algumas cédulas, havia a impressão semelhante aos selos postais da época. As emissões posteriores, autorizadas pelo Congresso no dia 3 de março de 1863, passaram a ser chamadas de "Fractional Currency-Meio circulante fracionado". Foram impressas cédulas fracionadas num valor total de 369 milhões de dólares, desmonetizadas pelos Atos de 14 de janeiro de 1875 e abril de 1876. A partir dessas datas, voltaram a circular as moedas de prata (silver dólar).

A Comunicação Postal com o Brasil
A correspondência proveniente da América do Sul, em geral, e do Brasil, em particular, viajava muito. A falta de linhas regulares entre os países sul-americanos e os EUA motivavam o que, na filatelia, chamamos de "dupla travessia transatlântica".
As cartas iam primeiro para a Grã-Bretanha (ou França, entre outros países), para, depois, seguirem viagem aos EUA. No caminho inverso, o mesmo acontecia.
O pagamento realizado no destino, entretanto, apresenta marcas e sinais muito interessantes, ligando a filatelia e a numismática.
Veja o exemplo à seguir:
Sobrecarta completa, enviada do Rio de Janeiro, 8 de julho de 1863, para Nova Iorque, com pagamento integral no destino. A tarifa postal entre o Brasil e a Grã-Bretanha, na época, era de 24 centavos de dólar (primeira escala de peso), sendo 48 centavos o porte duplo. Veja o carimbo de 48 CENTS desse percurso.
Da Grã-Bretanha para os EUA, o porte duplo era de 42 centavos. Temos então um total a ser pago, no destino, de 90 centavos. Esses 90 centavos poderiam ser pagos em moedas de prata ou em papel moeda. No segundo caso, entretanto, havia um acréscimo de 20% (falta de metal, moeda). Daí o carimbo preto U. S. NOTES 108 (90 centavos + 20%), indicando que o destinatário forneceu dólar fracionado para o referido pagamento. Era a filatelia e a numismática interligadas num só documento filatélico.
Caso inverso: Temos à seguir uma carta dos EUA para o Brasil que passou pela França e recebeu um carimbo de passagem "F-23" que indica a procedência desta missiva e teve que pagar no Brasil a quantia de 540 réis, valor este correspondente ao primeiro porte dos EUA para o Brasil, determinado pela convenção Postal, celebrada entre o Brasil e a França em 1860.

O Casamento Perfeito
Teoricamente, seria possível, então, existir um selo recortado da cédula fracionada que, afixado ou impresso numa carta, representaria o pagamento antecipado pelo serviço postal. Ora, como cédulas e selos são impressos pela mesma empresa, ou seja, a Casa da Moeda, por que não aceitar uma cédula ou parte dela como pagamento pela despesa postal? No caso, até uma semelhança física existe entre o selo postal e o centro da cédula fracionada.
Pois bem, a seguir apresentamos uma peça "filo-numismática" ou "numis-filatélica", mostrando um livro enviado com tarifa de 10 centavos de dólar, sendo que este foi recortado de uma cédula do período. O "selo-papel moeda", se é que podemos assim chamá-lo, ainda recebeu um carimbo mudo(sem indicação escrita ou letras). Pelo peso e distância, deveria receber exatamente 10 centavos de dólar como tarifa postal. Assim, percebemos que FILATELIA E NUMISMÁTICA, unidas a eventos da História, podem mostrar, lembrar e explicar épocas e períodos.
Comece você também, lendo, pesquisando e descobrindo fatos e objetos de grande interesse e curiosidade, sendo um FILATELISTA ou um NUMISMATA. Pode-se desejar ainda ser um FILO-NUMISMATA ou NUMIS-FILATELISTA.

Cartas de Soldados
O soldado, na frente de batalha, costumava, durante os momentos de trégua, escrever a seus amigos e familiares, informando sua situação, descrevendo atos e fatos. Nesses locais, não havia como pagar por esse serviço, por isso tal pagamento, como na era pré-filatélica, era efetuado no destino. As cartas provenientes desses remetentes custavam 3 centavos no destino. As vezes, os envelopes continham mensagens impressas, invocando a União e frases patrióticas. Vemos aí a filatelia e sua história
.

Eng. Peter Meyer
Membro do Club D'Elite da Filatelia de Mônaco, é editor dos Catálogos de Selos do Brasil, nosso colaborador e comerciante filatélico. Atualmente, está dirigindo a RHM Filatelistas, estabelecida no dia 20 de agosto de 1951. Também é autor do Catálogo Enciclopédico de Selos e História Postal do Brasil e do Catálogo de Inteiros Postais do Brasil.

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